Crônica - "O amor de mãe"

''O Amor De Mãe'' Crônica sobre a chegada de mais um sobrinho(a)
A minha irmã Giseli caminha lentamente com todo o cuidado. Para ela, um passo equivale a um quilômetro e a escada de casa, um morro a ser superado, pois um deslize pode ser fatal. Mesmo monitorando-a, quando sai sozinha, nossa preocupação aumenta. Não dá mais pra esconder. Sua imensa segunda barriga denuncia que há mais um ser prestes a nos visitar e, por ela, estamos também todos grávidos. O que ela pensar em pedir, “pronto, aqui está! Escrevo eu ,Tia Fa essa Crônica aqui''...A cada dia a natureza avança. Faz de seu corpo o que quer e o abarrota de emoções. “Meu Deus, como estou barriguda!”, dispara em frente ao espelho com uma expressão de quem deixou algo precioso para trás. “Ufa! Aai! Senti uma pontada neste instante?”, sentada, desabafa olhando-nos como se a gente pudesse fazer alguma coisa. A melhor parte é flagrar a Vó Pedrina a minha mãe thaís e ela juntas. É o passado, o presente e o futuro - que na escuridão do ventre só escuta – dialogando num mesmo espaço. Mesmo caladas, há uma cumplicidade em seus olhares e um jogo de gestos que só elas entendem. “Ê minha filha... Já passei muito por isso...É melhor ir se acostumando...”, consola. “Não, mãe. Este é o segundo e último,ou última”, retruca como se livrasse de uma batata quente. “Eu já fui mãe de primeira viagem e disse a mesma coisa. Olhe para seus três irmãos”.As duas se entreolham e sorriem. Silêncio. “Vocês crescem tão rápido. Parece que foi ontem vê-la no meu peito e atravessar noites em claro ,Nem vi você andar,Quando fomos busca-la em Itapeva ja andava!. Ajeitar teu cabelo, te dar meu colo, remendar tuas bonecas e te exibir de lar em lar. Depois a fase de comprar material escolar, te dar uma surra quando merecia e chorar o teu choro nas desilusões amorosas... ser mãe é distribuir conselhos, sofrer na busca do teu emprego, varar noites em que demoravas a chegar. De repente, ficastes mulher e o mundo a tomou de mim. A vida é assim, filha”. A conversa continuava neste ritmo. Eu, sentada num sofá , fingindo que assistia à televisão, ouvia a tudo. Coruja, acredito que se fosse dado pleno poderes a minha genitora, ela revertia o tempo, a tempo de nos ver na dependência de seu corpo, afogados nos incontáveis afagos, do “menino vem cá” , controlados e salvos pela proteção do lar. Agora entendo a interrogação de todas as mães: “filhos, por que vocês crescem?”.

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